domingo, 19 de junho de 2011

Memórias da Parahyba: Das Neves a João Pessoa

O documentário é uma representação parcial e subjetiva da realidade. No entanto, o uso dos depoimentos contribui para o resgate da opinião pública, explicitando paralelamente contextos sócio-culturais da história.
Ao pretendermos realizar um documentário sobre as mudanças do nome da capital da Paraíba queremos demonstrar que, ao contrário de outras capitais do país, João Pessoa tem sua denominação oriunda de um acontecimento histórico de profunda relevância que é muito pouco conhecido, vivido e percebido pela grande maioria da população que nela vive.
A comunidade local desconhece as razões, os fatos ou mesmo as condições políticas que resultaram em tantas mudanças do nome da capital de Paraíba tampouco a instituição das cores e do símbolo de nossa bandeira. O mais grave é que, no âmbito das escolas públicas ou privadas - carentes de material didático sobre a história local – são formados cidadãos que não possuem elementos para a construção de sua identidade local. O que temos é uma noção pré-estabelecida, factual, relatos parciais que não atendem às contribuições teóricas e metodológicas que norteiam o ensino da História hoje.
Para o cumprimento fiel do que se propõe é necessário fazer uma alocação, dentro do universo de pessoas cuja trajetória aponta conhecimentos acerca da história da Paraíba e em particular da cidade de João Pessoa.
É necessário que todos tenham o direito a um conhecimento democrático, crítico e significativo, para que assim possamos ter a ciência do real valor das nossas referências histórica para a construção de nossas identidades. Ademais, sem a consciência de nossa identidade, inviabiliza-se a participação na construção de uma política coerente com nossos anseios, culturalmente crítica e democraticamente possível.

Aguardem!!! Em breve será lançado o documentário "Memórias da Parahyba: Das Neves a João Pessoa".

Mabel Petrucci

O Museu Virtual José Américo de Almeida

O museu é um espaço institucional permanente a serviço da sociedade e que tem um caráter educacional não formal, caracterizado pelo conhecimento descentralizado, simbólico e participativo, de motivação pessoal, que prima pela preservação, valorização e divulgação de todo e qualquer acervo que abriga em suas dependências. O Museu Casa de José Américo é um exemplo cabal deste universo cultural vivenciado na representação material da história e memória do patrono da instituição, que foi um dos mais importantes representantes da nossa literatura e da nossa política.

José Américo de Almeida nasceu em 1887, em Areia/PB. Formou-se na Faculdade de Direito em Recife em 1908, quando inicia sua carreira jurídica e, em 1922, publica sua primeira obra literária: “Reflexões de uma cabra”, novela a qual satiriza o comportamento dos nordestinos que emigram para outras terras. Em 1923 publica “A Paraíba e seus problemas”, ensaio em que reflete sobre seus estudos de Economia, Geografia Humana e Sociologia.

O livro “A Paraíba e seus Problemas” levanta questões como a de que o subdesenvolvimento do Nordeste não se deve à terra – que é fértil – nem ao homem – que é forte, mas sim a problemas eminentemente políticos. Segundo José Américo, a história do Nordeste desde os tempos de colonização, é feita de preterições e de abandono, daí as precárias condições de vida do seu povo, apesar das potencialidades da região. O livro é também o primeiro estudo feito no Brasil sobre o fenômeno do banditismo, abordado sob o ponto de vista sociológico, tema que ele dramatizaria mais tarde, em 1935, em Coiteiros, novela em que retrata a ação dos cangaceiros nos confins do Nordeste.

A mesma coerência temática do autor é observada em O Boqueirão, também em 1935, agora encaminhando o assunto para uma ação paralela – a idéia da construção dos grandes açudes, associada à solução da irrigação.(CASTRO, 1987, p. 17)

O romance “A bagaceira”, publicado em 1928, confere a José Américo reconhecimento nacional como escritor. Esta obra é considerada um marco por inaugurar o regionalismo moderno na Literatura Brasileira, retratando o sertão paraibano e a miséria crônica nordestina, como resultado de políticas sociais em detrimento de uma visão fisiográfica. Sua importância se expressa em três edições em língua estrangeira (Inglês, Espanhol e Esperanto), além de já se encontrar na sua 42ª edição em língua portuguesa.

Desmistificando a seca, o romance paraibano encontra sua força de denúncia na ironia do contraste estabelecido entre a "natureza privilegiada" do brejo e a degradação humana, vinculando o estado degradado à estrutura moral e sócio-econômica que A Bagaceira personifica. Nesta perspectiva, a funcionalidade da paisagem não deixa margem a que se confunda sua exuberância com o descritivismo de efeito meramente pitoresco. Pois, além de tornar mais chocante a miséria humana, "a verdura perene" desmascara a face desértica forjada como identificação do Nordeste, em decorrência da ação dos "exploradores das secas". Em tais circunstâncias, o paisagismo de A Bagaceira se faz intencional recurso expressivo no sentido de superar a falsa imagem dos problemas da região, "cujas reais possibilidades de desenvolvimento passaram a ser subestimadas, falando-se na inevitabilidade de seu abandono” (ALMEIDA, 2006 p. 96).

Além do destaque na literatura, José Américo também se destacou na política, sendo que em 1930 foi eleito Deputado Federal e participou ativamente da Revolução daquele ano, juntamente com João Pessoa, combatendo o Coronelismo, política esta que prejudicou enormemente o desenvolvimento social, político e econômico nordestino. Com esta atuação, José Américo ganha destaque nacional, pois conta, em sua folha de serviços, realizações que raramente se combinam: o reconhecimento literário, a lealdade e a firmeza de comando em tempos de guerra, e uma experiência administrativa que o creditava a reeditar, no plano nacional, o espírito modernizante e reformista já instaurado na Paraíba por João Pessoa.

Na década de 50, além de ter sido governador da Paraíba e Ministro da Viação e Obras Públicas, funda, em 1956, a Universidade Federal da Paraíba, sendo o seu primeiro reitor e dando continuidade a sua obra política e literária cujo enfoque sempre foi a questão nordestina.

Na década de 60, é eleito membro da Academia Paraibana de Letras (1965) e Academia Brasileira de Letras (1967). Neste ultimo ano, publica “Discursos Acadêmicos” e “O ano do Nego”, contendo narrativas de episódios vividos em 1930, com depoimentos referentes à Revolução Liberal. Já na década de 70, sua trajetória continua marcada por várias publicações de narrativas históricas e poéticas, sempre enaltecendo a cultura nordestina.

Em 10 de março de 1980, José Américo morre em sua residência e é sepultado com honras de Ministro de Estado. Em dezembro do mesmo ano, é criada pelo então Governador Tarcisio de Miranda Burity a “Fundação Casa de José Américo”, na casa onde o Imortal viveu os últimos 22 anos de sua vida, e que atualmente abriga o “Museu Casa de Jose Américo”.

É do conhecimento dos estudiosos da história da educação o caráter elitista da educação brasileira. José Américo de Almeida, embora não fuja a esta regra, contribuiu enormemente para a educação com a criação de colégios agrícolas e da Universidade Federal da Paraíba, estendendo-se ainda ao setor artístico e cultural, criando na capital a Escola de Música Antenor Navarro. Estes feitos, sobretudo para o Nordeste e a Paraíba em particular, impulsionaram a universalização da educação e o desenvolvimento para uma região a qual tinha como principal flagelo a seca.

Acessem: http://www.museuvirtualjoseamerico.pb.gov.br/index.php

Mabel Petrucci

sábado, 3 de julho de 2010

A virtualização da cultura na efervescência das ciências

Historicamente as regiões sul e sudeste têm sido consideradas como as regiões que efetivamente construíram e ainda constroem a economia nacional. No entanto, sabemos da importância de outras regiões na construção de nossa nação.
No caso da região nordeste, atualmente a questão do bio- combustível ocupa lugar no debate nacional no que diz respeito ao aquecimento de uma economia auto-sustentável e de exportação. O fortalecimento da economia deve ser acompanhado do fortalecimento cultural, pois o mesmo é quem vai garantir a autonomia para definirmos posições políticas e econômicas no embate da negociação do quê, como, para quê e para quem produzir. Sendo assim, a comunidade cultural, diante da Globalização, é que faz com que a mesma não subsuma diante do poder econômico.
Da mesma forma, nas produções culturais nacionais não é raro a identificação da região nordeste como uma região inóspita, improdutiva, e incapaz de se auto-sustentar economicamente, a exemplo da seca retratada em alguns filmes.
Um dos desafios do indivíduo na pós-modernidade é se afirmar culturalmente com os valores de sua aldeia perante a sociedade globalizada. Este é o desafio a ser considerado pela sociedade em rede, a qual, segundo Castells (1999), configura-se como um novo sistema de comunicação que transforma radicalmente o espaço, o tempo e as dimensões fundamentais da vida humana. Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares. O tempo é apagado no novo sistema de comunicação - já que passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, em que o faz-de-conta vai se tornando realidade.
A rede mundial de computadores (internet) tem sido uma ferramenta essencial para o fortalecimento das culturas, na medida em que divulga – nacional e internacionalmente – os conteúdos necessários para o reconhecimento de povos e nações. Neste sentido, urge elaborarmos estratégias que, aliadas às ferramentas comunicacionais, possam contribuir para o reconhecimento de nossa comunidade cultural.
Personagens e fatos regionais podem retratar nossa efervescência cultural, desde que organizados didaticamente e seguindo a lógica da complexidade que os compõem. As Ciências da Informação, a Biblioteconomia, a Pedagogia e a Antropologia, bem como a História, compõem campos do conhecimento produzidos para fortalecer e divulgar os valores da humanidade, a qual – sem sombra de dúvidas – ajudamos a construir.
O uso das tecnologias digitais da informação e comunicação possibilita fidedignidade, qualidade e difusão de acervo já existente em meio físico, disponibilizando, sem fronteiras a cultura paraibana, no meio virtual.
Desta feita, um ambiente virtual passa a ser um dispositivo para ações educacionais nas diferentes modalidades (presencial e a distância). Com isso, incrementa-se sobremaneira a INCLUSÃO SOCIAL, a partir do acesso à cultura e à INCLUSÃO DIGITAL, por meio da utilização da rede mundial de computadores, em qualquer lugar do mundo.
O Ambiente virtual é um dispositivo presente na rede mundial de computadores que pode difundir, para além das fronteiras geográficas, a importância de toda e qualquer cultura. No nosso caso em particular, este dispositivo reforça nossa produção e identidade cultural.
Uma das características culturais dos tempos pós-modernos é que a tecnologia permite ao indivíduo o acesso imediato a múltiplas influências culturais. Por conseguinte, ocorre o caso de ele ficar alienado de sua própria cultura não sabendo se afirmar perante as demais.
Na medida em que os documentos de personagens e fatos de uma determinada região se encontrem em processo de digitalização, a cultura histórica está sendo fortalecida, pois, as peculiaridades culturais são materializadas na sua historicidade.
Daí a importância de colocar os dados de um arquivo, de uma biblioteca ou de um museu no ciberespaço – no espaço virtual – pois eles possibilitarão o acesso ilimitado de suas informações a toda a sociedade em rede, permitindo, por vezes, a retro-alimentação.


Mabel Ribeiro Petrucci